segunda-feira, 2 de junho de 2008

Os donos da terra percebem o rio como condição de sobrevivência

Silvana Maciel
No domingo dia 25 de Maio de 2008, o Fantástico(programa de cunho jornalístico da rede Globo) exibiu uma reportagem, a meu ver, sensacionalista ao fazer o arranjo da notícia de forma que interessasse e atraísse a atenção do telespectador para um suposto “ataque” e “agressão” dos índios Caiapós do Pará ao engenheiro da ELETROBRAS Paulo Fernando Resende ao expor a proposta de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte(essa que será considerada a segunda maior usina hidrelétrica do país).
Segundo o dicionário Agredir é o mesmo que bater em; espancar; atacar; provocar; injuriar. E Atacar é o mesmo que hostilizar; acometer; estragar; combater; danificar; ofender; manifestar-se repentinamente; investir reciprocamente. Partindo desses conceitos e especificamente das palavras em destaque, levanto o seguinte questionamento: Será, mesmo, o índio o agressor nessa história?
Se nos atentarmos ao conceito de ataque enquanto uma manifestação repentina, diria que aquela foi a forma mais natural dos Caiapós decorrer em defesa do território e habitat do seu povo e de garantia da sua sobrevivência. Enquanto a imprensa se refere a ação dos Caiapós como ataque, agressão e bater em; eu, porém, desconsidero esses conceitos para apoiar-me naqueles menos explorados pela mesma, por acreditar que são bem mais justos à causa do povo indígena.
O que houve por parte desse meio de comunicação, foi a não preocupação em buscar discutir com os povos nativos daquela área suas aflições e inquietações a cerca da implantação da usina muito menos consultá-los sobre suas prioridades e/ou necessidades. Não se sensibilizaram (governo, primeiramente, e imprensa) com os possíveis impactos que o projeto causará, tanto ao meio físico quanto à cultura da tribo Caiapó. Anulando, assim, a autonomia dos povos indígenas na gestão do seu próprio território.
Diante desta situação, observo que o governo brasileiro vem negando toda uma vida comunitária como referência e legado cultural de um povo pertencente à nação brasileira tanto quanto qualquer outro cidadão brasileiro, visto que as discussões para a implantação da usina tem-se dado de forma vertical não reconhecendo a atitude daqueles povos como atitude participativa e permitindo que a imprensa trate os povos indígenas com tamanha falta de respeito, quando os coloca como incompreensíveis. Ignoram o povo indígena que, naturalmente, procede e pertence a essa terra Brasil e tem direito à posse legítima deste solo.

sábado, 31 de maio de 2008

Serrinha: sua História, sua Vida e seu Povo

Luciene Silva Amorim


A História de Serrinha
Você vai conhecer
A Nação Cariris
Foi a primeira aqui conviver
Deixaram sua cultura
Que valeu a pena aprender

Serrinha se tornou
Ponto de ligação
Da capital colonial
Ao Rio São Francisco no Sertão
Abriram estradas das boiadas
Para efetuar a colonização

Surgiu uma fazenda
Nomeada Serrinha na Capitania na Bahia
Descansar homens e animais
Era o que o colono português queria
Criação de gado
Era também sua serventia

Como em todo o Brasil
Os negros aqui foram explorados
Usavam sua mão-de-obra
Muitos foram massacrados
Como os índios tocós e beritingas
Que foram aniquilados

Bernado da Silva
Comandante português de uma expedição
Foi quem iniciou
A urbanização
Construiu uma capela
Tendo Senhora Santana na louvação

Distrito de Paz de Serrinha
Foi nomeada
No fim do século XIX
Foi desmembrada
Da cidade Purificação dos Campos
Que Irará hoje é chamada

Uma estrada de ferro
Foi construída
Ligar Serrinha à Salvador
Esta foi à meta obtida
A dinamização da cidade
Ficou bem estabelecida

Comercializar
Cereais e gados
Foi o que impulsionou
A economia de fato
A Feira Livre
Podemos ver que foi um legado

José Joaquim de Araújo
Foi o capitão
Que reivindicou
Pela emancipação
No dia 13 de junho
Realizamos esta comemoração


A antiga fazenda
Do português Bernado da Silva
Hoje é uma praça
Que por todos é conhecida
Como Luís Nogueira
Uma praça muito querida

Hoje Serrinha
Possui mais de 70 mil habitantes
Com seus 19 bairros
Torna a cidade interessante
Uma vasta zona rural
Com comunidades cativantes.

Pra você que é curioso
E gosta de aprender
Pesquise mais sobre Serrinha
Que você vai ver
A mistura de etnias
Que está dentro de você

sexta-feira, 30 de maio de 2008

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE SERRINHA: A CULTURA DA TRIPA SECA

Era uma vez . . . Todas as histórias de contos de fadas começam assim. Aqui é tudo real! Ouça o ensurdecedor e fascinante barulho piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Faremos um passeio de trem no passado, presente e futuro da estação ferroviária de Serrinha.
Tudo começou no ano de 1880, quando chegou à estrada de ferro. Ela não veio sozinha! O grande barulho do trem fez acordar o desenvolvimento da cidade serrinhense. Hotéis foram construídos, o comércio desenvolveu e até uma bomba d’água foi instalada para abastecer o admirável trem.Podemos falar que antes deste acontecido as viagens eram feitas à pé, em lombo de animais ou em carroças.
A chegada da estação ferroviária foi um marco na história de Serrinha, pois com isso, a até então vila, foi emancipada em poucos anos depois, exatamente em 30 de junho de 1891.
Os poetas-compositores Milton Nascimento e Fernando Brant conceituam a estação, na envolvente canção Encontros e Despedidas:

Todos os dias
É um vai e vem
A vida se repete
Na estação
Tem gente que chega
Pra ficar
Tem gente que vai
Pra nunca mais
Tem gente que vem
E quer voltar
Tem gente que vai
E quer ficar
Tem gente que veio
Só olhar
Tem gente a sorrir
E a chorar

Hoje a estação ferroviária, destaca-se não pelo vai e vem de pessoas que entram no trem com destino, em especial para Salvador, mas sim pelo vai e vem na própria estação. São nos finais de semanas que este local que para muitos se tornou um lugar, “ferve de gente”. O barzinho localizado dentro da estação é ponto certo para quem quer comer uma deliciosa tripa seca, prato que se tornou referência. Uma grande diversidade de gêneros, etnias, idades e classe social é visível. Crianças correndo de um lado para o outro, mulheres e homens sempre acompanhados com a família ou amigos e estes podem chegar em carros, de bicicleta ou até a pé, não importa, o que realmente vale é a prazerosa conversa e a suculenta tripa seca com uma cervejinha ou refrigerante.
E foram felizes para sempre. . .
Espera uma pouco! Esta história, como já foi dito, não é contos de fadas e não acaba aqui. Ainda vamos conhecer os sujeitos que fazem deste local um lugar no qual rir, chora, trabalha, dialoga, vive.

Luciene AmorimDE SERRINHA: A CULTURA DA TRIPA SECA

Era uma vez . . . Todas as histórias de contos de fadas começam assim. Aqui é tudo real! Ouça o ensurdecedor e fascinante barulho piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Faremos um passeio de trem no passado, presente e futuro da estação ferroviária de Serrinha.
Tudo começou no ano de 1880, quando chegou à estrada de ferro. Ela não veio sozinha! O grande barulho do trem fez acordar o desenvolvimento da cidade serrinhense. Hotéis foram construídos, o comércio desenvolveu e até uma bomba d’água foi instalada para abastecer o admirável trem.Podemos falar que antes deste acontecido as viagens eram feitas à pé, em lombo de animais ou em carroças.
A chegada da estação ferroviária foi um marco na história de Serrinha, pois com isso, a até então vila, foi emancipada em poucos anos depois, exatamente em 30 de junho de 1891.
Os poetas-compositores Milton Nascimento e Fernando Brant conceituam a estação, na envolvente canção Encontros e Despedidas:

Todos os dias
É um vai e vem
A vida se repete
Na estação
Tem gente que chega
Pra ficar
Tem gente que vai
Pra nunca mais
Tem gente que vem
E quer voltar
Tem gente que vai
E quer ficar
Tem gente que veio
Só olhar
Tem gente a sorrir
E a chorar

Hoje a estação ferroviária, destaca-se não pelo vai e vem de pessoas que entram no trem com destino, em especial para Salvador, mas sim pelo vai e vem na própria estação. São nos finais de semanas que este local que para muitos se tornou um lugar, “ferve de gente”. O barzinho localizado dentro da estação é ponto certo para quem quer comer uma deliciosa tripa seca, prato que se tornou referência. Uma grande diversidade de gêneros, etnias, idades e classe social é visível. Crianças correndo de um lado para o outro, mulheres e homens sempre acompanhados com a família ou amigos e estes podem chegar em carros, de bicicleta ou até a pé, não importa, o que realmente vale é a prazerosa conversa e a suculenta tripa seca com uma cervejinha ou refrigerante.
E foram felizes para sempre. . .
Espera uma pouco! Esta história, como já foi dito, não é contos de fadas e não acaba aqui. Ainda vamos conhecer os sujeitos que fazem deste local um lugar no qual rir, chora, trabalha, dialoga, vive.

Luciene Amorim

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Quando os europeus chegaram às terras brasileiras, graças ao projeto mercantilista, encontraram aqui grandes nações que se organizavam socialmente através de tribos. Estima-se que viviam no Brasil no século XVI aproximadamente 6 milhões de pessoas . Hoje, este número se reduz e chega a 1%deste total.
Para melhor facilidade no contato dos europeus com os indígenas, os primeiros trocavam coisas consideradas por eles de ínfimo valor por ouro, ervas e pau-brasil. O contato indígena como o homem branco, até então eram pacíficos, mas a partir do momento em que os europeus passaram a se utilizar da força para submeter os índios eram castigados, humilhados, além do desrespeito as tradições, exumação de tribos inteiras.
Partindo deste breve passeio histório vamos noso remeter ao episódio do representante da ELETROBRÀS Paulo Fernando Resende e os índios da tribo caiapós. A defesa indígena foi vista e transmitida pela mídia como "selvageria". Para quem está sendo "convidado" a se destituir de seu território, para construção de outra hidrelétrica, a segunda maior do Brasil, depois de Itaipú é uma ofensa. Que benefício teriam estas tribos?
Este caso lembra-me quando a família real chegou ao Brasil, e como não podiam (oui não queriam) construir suas moradias, destituíram seus verdadeiros moradores para ocupar estes espaços. Outro caso também feito pelo próprio governo, por exemplo, no pelourinho, que expulsou os moradores para transformação da eestrutura em centro turístico e cultural, hoje reterritorializado pelos antigos moradores e pelas pessoas que pertencem a esta mesma classe , mas, para que isto viesse a ocorrer foi preciso um conflito entre as partes.
Hoje, a ELETROBRÁS retoma um projeto antes abandonado e agora com a proposta de redução de área alagada de 1.225 Km2 para 440 Km2 numa reserva indígena. Reserva como o próprio nome diz reservado, e a uma sociedade que teve suas terras , culturas limitadas e agora o território que já é pequeno pela quantidade de terras que um dia já possuiam, terá que ser reduzido mas ainda para atender a interesses capitalistas, já que, o Brasil possui potencial hidrelétrico para abastecer todo o país e adjacências.
E agora, a quem caberá a decisão? E qual a posição da FUNAI diante deste caso?
Este episódio aos poucos está sendo abafado pela mídia para que as decisões sejam tomadas , os índios sejam vistos como estão sendo; homens selvagens que não tem atitudes próprias e sem direito a decisão de seu bem estar



Publicado por: Sílvia de Santana Borges
Confesso que fiquei chocado ao ver as reportagens sobre ataque dos indios caiapós ao engenheiro da ELETROBRAS exibidas no último Domingo (25/05/08) e nos demais telejornais durante a semana. Chocado com o sensacionelismo com que foi tratado o fato.Sai Isabela e Carolina Jatobá entra o engenheiro Paulo Fernandes Resende; sai Alexandre Nardoni e a madrasta entram os caiapós. Num turbilhão de perguntas sem respostas e informações dispersas em chamadas que mexiam com nossas emoções ao limite.

Esta atitude da mídia provocou-me algumas inquietações que não me tinham passado pela cabeça até então:(1)Apesar da necessidade de evitar uma crise energética no futuro, de onde surgiu a necessidade de se construir uma usina de tamanha proporção ( a segunda maior em produção de energia do Brasil) ? em tempos lobistas onde os interesses dos deputados e senadores são "coincidentemente" os das empreiteiras e não os da população fica difícil saber; (2) que ponto de pauta das discussões levou os índios caiapós a tomarem essa atitude? parece que não é interessante participarmos de tais discussões, mas sim que assistamos a tudo estarrecidos e/ou emocionados; e, utilizado da minha ignorância progamada sobre os fatos, (3) de que forma os caiapós seriam ressarcidos caso cedessem suas terras ao governo para a construção da hidrelétrica? receberiam ocas com sistema de esgoto, energia elétrica, praça de aldeia pavimentada? ou áreas particulares de caça e pesca com mapas para os índios se adaptarem ao novo espaço demarcado?

O que está em jogo nessa disputa não é apenas a posse da terra, e sim a identidade dos caiapós, que será totalmente abalada caso o projeto do governo seja implantado. Não seria surpresa alguma lá pra 2015 encontrarmos na região um monte de índios alcoólatras sem território, sem identidade com toda sua história embaixo de milhões de litros cúbicos d'água e milhões de dólares nos cofres do governo e das multinacionais das minas e energia.Esse fato, mais uma vez, nos mostra o verdadeiro objetivo da imprensa no Brasil, garantir os índices de audiência e consequentemente o lucro com a publicidade e defender os interesses das classes privilegiadas subjugando qualquer interesse coletivo da sociedade.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Mário José dos Santos Fagundes
mariojsfagundes@yahoo.com.br


O LUGAR CONTROLADO

A diferenciação entre conceitos de lugar e espaço e o modo como Michel de Certeau os aplica em seus textos consiste no objetivo principal dos capítulos 03 e 04 da obra Cotidiano e invenção:os espaços de Michel de Certeau de Fábio B. Josgrilberg. Numa linguagem e percepções diferenciadas das comumente empregadas no curso de geografia, estes conceitos podem parecer confusos, para nós geógrafos.Entretanto, contribuem para uma ressignificação e/ou (des)construção dos conceitos geográficos de espaço e lugar, bem como para uma crítica epistemológica à nossas produções dentro da academia e das várias instâncias do nosso cotidiano.
O conceito de lugar controlado apresentado por Michel de Certeau se aproxima muito do conceito de território de Milton Santos em A natureza do espaço (2004). Para este último, território se materializa a partir das relações de poder entre o homem e o espaço; já para Certeau a noção de lugar indica um “lugar próprio” onde os elementos que o constitui estão organizados de forma estável. Um “lugar” organiza seus elementos um em referencia ao outro. Assim, dois elementos nunca podem estar na mesma localização. Cabe às estratégias (IBIDEM, p.59 apud JOSGRILBERG, 2005), ou aparato disciplinar (FUCOALT apud JOSGRILBERG, 2005) organizar o lugar. Certeau apresenta “estratégias” como a manipulação das relações de poder, o cálculo, em prol do controle e da disciplina se referindo à escrita (leis) como um grande modo de organização da sociedade.
Josgrilberg se utiliza Foucault para esclarecer a natureza das produções de Certeau. Inicialmente os trabalhos dos dois autores parecem imbricados quando o objetivo é reconhecer e suscitar as estratégias, o aparato disciplinar no objetivo de alcançar a estabilidade ou o aparato social. Ambos denunciam o desejo de disciplinar baseado em um poder, em conhecimento, divisões, controle de tempo e na organização de elementos dentro de um espaço. No entanto, a preocupação empregada por Certeau no tocante à rejeição do corpo a essas normatizações, ao grito, ao inesperado às possibilidades de resistência, o distância das formulações foucautianas.

O LUGAR PRATICADO

Dentro do lugar praticado os indivíduos constroem suas identidades aproveitando-se das brechas na estrutura escriturística de organização da sociedade, construindo assim um espaço paralelo, fruto dos usos e costumes do cotidiano.A esse modo de construir o seu espaço a partir de um espaço organizado Certeau denomina de a arte do fraco.
Vale salientar que estas duas dimensões do espaço coexistem e funcionam como uma espécie de corda bamba aonde o constante equilíbrio/conflito entre estratégias e táticas vai organizando os espaços.
As práticas cotidianas são criadoras da identidade do lugar, construindo, desconstruindo e reconstruindo os espaços. Em tempos de globalização, por exemplo, e de práticas de homogeneização dos espaços (SANTOS, 2008), a luta pelo poder através do controle do corpo, dos gostos, do pensar, traz, em contra partida, a emergência de ações contrárias à essas políticas e de usos cada vez mais diversificados das próprias técnicas homogênicas.O desemprego causado pela era dos shopings centers acaba por contribuir para a efervescência do comércio informal, a arte daqueles excluídos do projeto tecnológico de dominação do capitalismo global.
O controle total não existe, a liberdade total não existe.A máquina escriturística, a tecnologia não dominará plenamente o homem, pois este é carregado de experiências, vivências, necessidades e valores que contribuirão para a formação e defesa da sua identidade.

REFERÊNCIAS

JOSGRILBER,Fabio B.Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. Coleção ensaios transversais. São Paulo: Escrituras editora,2005.

SANTOS,Milton. A natureza do espaço.São Paulo:EDUSP,2004

______________. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.São Paulo . 15ª ed. Rio de Janeiro:Record, 2008,

Iê!!! Vamos passear pelo contexto da música da capoeira Angola e sua contribuição (in) formativa.

Silvana Maciel

Este texto pretende discutir a música da Capoeira Angola, enquanto instrumento facilitador para troca de conhecimento. Para isso, uso a própria música como respaldo para aquilo que afirmo no decorrer do texto. Vale aqui ressaltar que o meu interesse pela temática brotou justamente pela significativa importância que a Capoeira Angola tem pra mim (meu lugar praticado) e pelo conhecimento que lá adquiri através do contato com as músicas da capoeira.
Contextualizando o nome Capoeira :
“...conta-se que, quando um negro escravo fugia e o feitor retornava sem conseguir capturá-lo, o senhor de engenho indagava:
___ Cadê o nego?
___ Me pegou na capoeira! Respondia o feitor, referindo-se ao local onde fora vencido...”.
(OLIVEIRA, 1989,P.21)
O termo capoeira = clareira significa, nesse contexto portanto, trecho de mato sem árvores, logo, mato baixo e rasteiro,local no qual o negro, por ter melhor flexibilidade com o corpo, conseguia se esconder sem maiores esforços e assim vencer o feitor.
A música da capoeira Angola
A música é um elemento simbólico cultural e representa um meio de comunicação social em suas diversas expressões: liberdade, dor, tristeza, alegria, protesto etc; permitindo uma troca de idéias entre aquele que canta e aqueles que ouvem, ou ainda, entre aqueles que se comunicam no jogo, por meio de gestos corporais imbuídos do ritmo harmonioso da música que está sendo tocada e cantada. É o caso dos corridos (mantras) que narram fatos momentâneos que acontece dentro do próprio jogo a exemplo do “Apanha a laranja no chão tico-tico, não apanha com o pé, nem com a mão, só com o bico”. Esse corrido é geralmente puxado quando alguém joga dinheiro na roda de capoeira com o intuito de ver um dos capoeiristas pegar a nota com a boca, sem deixar de fazer os movimentos do jogo, aquele que conseguir tal mérito fica com o dinheiro. Um outro corrido, bastante interessante, visa reprimir o capoeirista que no jogo oprime e machuca o companheiro menos hábil ou que tem menos tempo de capoeira que ele: “Não bata na criança que a criança cresce, pois, quem bate não lembra e quem apanha não esquece” ou outro “Seu feitor não maltrate o negro assim, esse negro tem valor seu feitor, não pra você, mas tem pra mim”.
A capoeira consiste em ser uma arte que expressa qualidades humanas através da música, da luta e da dança, qualificando-se numa fonte de conhecimento e de formação de valores, o que garantiu ao negro escravizado uma significação humana, negada a partir das condições indignas às quais o negro foi submetido durante séculos e que se reflete até hoje.
Percebe-se que a música da capoeira Angola segue uma ordem ou hierarquia. O canto de início do jogo da Capoeira Angola é a Ladainha (relato de uma história), em seguida se canta a Louvação (composta de frases curtas que exaltam a Deus, orixás, a pessoa do mestre, outras pessoas, objetos ou algum acontecimento) e por fim o Canto Corrido (versos curtos e repetitivos que exprimem um fato).
A Ladainha é cantada por quem dirige a roda de capoeira (o mestre ou outro responsável), ela tem por objetivo iniciar o jogo relatando uma história / fato sobre alguém ou algo. É um momento de reflexão e de se prestar bastante atenção ,visto que, é nesse momento que começa a troca de conhecimento por meio da música cantada.
Observem algumas Ladainhas selecionadas e a temática que elas abordam em suas letras:
Essas duas primeiras contam versões acerca da origem da capoeira:

Foi correndo dos açoites
(Autor: Lupião)
Foi correndo dos açoites
Foi correndo dos açoites
Fugindo da maltratação
Que a capoeira surgiu
No tempo da escravidão
Uns dizem que veio da África
Outros, nasceu no sertão
Sei que veio do escravo
Fugindo do capitão
Rasgaram a serra bruta
Num branido angustiado
A serra logo calou-se
Num poente ensangüentado
Eram os capitães do mato
Fugindo dos capoeiras
Que na agonia da fuga
Tombavam nas mil rasteiras
Camaradinha...


No tempo que Nego chegava
(Autor: Lupião)
No tempo que nego chegava
No tempo que nego chegava
Fechado em uma gaiola
Nasceu aqui no Brasil
Quilombo e Quilombola
Todo dia nego fugia
Ajudando a curriola
De estalos de açoites
De ponta de faca e zunido de bala
Nego voltava pra argola
Lá pro meio da senzala
Ao som do tambor primitivo
Berimbau, maracá e viola
Nego grita abre ala
Vai ter jogo de Angola
Formosa dança guerreira
O corpo do nego é mola
Na hora da vadiagem
Ele embola e desembola
E a dança era uma festa
Para o povo da terra
Virou principal defesa
Do nego durante a guerra
Câmara...


Há outras que relatam as precárias condições de vida imposta aos negros africanos e afrodescendentes:

Um grito varou a noite
(Autor:Lupião)

Um grito varou a noite
Um grito varou a noite
Na senzala do senhor
Era um gemido sentido
Era um gemido de dor
O negro tinha fugido
No mato se refugiou
Capitão entrou no mato
Para agradar o feitor
O negro deu cabo dele
Mas feriu-se na batalha
Negro foi capturado
Ta sofrendo na senzala
Pois além dos ferimentos
Levou muita chicotada
Câmara...


A religiosidade é muito cantada nas músicas de capoeira, vista como uma proteção necessária e como libertação espiritual do negro escravo.


São Benedito
( Ms. Cláudio)

EU vou fazer meu pedido
Eu vou fazer meu pedido
Para o meu S. Benedito
Porque ele é um Santo negro
Em santo negro eu acredito
Meu santo Benedito
É meu santo protetor
Me proteja nesta roda
Neste lugar onde eu estou
Faca de ponta não me fura
E jamais há de furar
Olho grosso não me enxerga
E jamais enxergará
Arma de fogo não me queima
S. Benedito apagará
Meu santo Benedito
É meu santo protetor
Protegeu o negro escravo
Que era carente de carinho e de amor
Camaradinha...

Quando eu chego no terreiro

Quando eu chego no terreiro
Quando eu chego no terreiro
Trato logo de louvar
Louvo a Deus primeiramente
Louvo meu pai Oxalá
Também louvo o pai Xangô
E a rainha do mar
Peço licença a Deus de Angola
Me dê salão pra vadiar
Camaradinha...


Estas últimas ladainhas, carregam em suas letras a indignação ao vermos na história do Brasil a pouca valorização que foi dada ao negro, principal agente no processo de formação desse país e conseqüentemente, busca desconstruir a falsa história que nos contam na escola da liberdade dada, que oculta a luta daqueles que conquistaram a liberdade nos diversos quilombos em todo o Brasil .

Dona Isabel que história é essa?

Dona Isabel que história é essa?
Dona Isabel que história é essa?
De ter feito a abolição
De ser princesa boazinha
Que libertou a escravidão
Eu to cansado de conversa
Eu to cansado de ilusão
Abolição se fez com sangue
Que inundava esse país
Que o negro transformou em luta
Cansado de ser infeliz
Abolição se fez bem antes
E ainda por se fazer agora
Com a verdade da favela
Não com a mentira da escola
Dona Isabel chegou à hora
De acabar com essa maldade
De se ensinar pros nossos filhos
O quanto custa a liberdade
Viva Zumbi nosso rei negro
Que fez-se herói lá em Palmares
Viva a cultura desse povo
A liberdade verdadeira
Que já corria nos quilombos
E já jogava capoeira
camaradinha



A história nos engana

A história nos engana
A história nos engana
Dizendo pelo contrário
Até diz que a abolição
Aconteceu no mês de Maio
Comprovada essa mentira
É que da miséria eu não saio
Viva o 20 de novembro
Momento pra se lembrar
Não vejo em treze de Maio
Nada pra comemorar
Muito tempo se passou
E o negro sempre a lutar
Zumbi é nosso herói
Em Palmares foi senhor
Pela causa do homem negro
Foi ele quem mais lutou
E apesar de toda luta
O negro não libertou
camará


Era noite em Angola

Era noite em Angola
Era noite em Angola
Quando mataram o rei Zumbi
Sufocaram a liberdade
Mas hoje eu estou aqui
Eu trago a força do vento
Trago a força da maré
Trago a forca de Ogum e de Oxalá
Deus maior do Candomblé
Câmara



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